Caminho na areia. Os meus pés nus sentem os grãos soltos e quentes que me fazem acelerar o passo. Não só pelo calor que o areal me transmite, mas também a ânsia que tenho em chegar a casa.
As saudades impelem-se para a frente e eu sinto a excitação a crescer, tudo à minha volta parece desaparecer, à medida que me aproximo do meu objectivo.
É então que a vislumbro. Primeiro, um frémito do telhado cor de fogo, erguido contra o céu. Enquanto vou avançando pelo trilho traçado, séculos atrás, pelos meus antepassados, ela aparece em todo o seu esplendor. Grande e imponente, as paredes cobertas de hera centenária que tenta alcançar um céu inatingível. As janelas abertas como olhos que observam tudo em seu redor.
Avanço pelo jardim. A fonte canta, anunciando a minha chegada. À medida que me movimento entre as flores, estas desabrocham, numa enorme explosão de cheiro e cor, como se o meu regresso trouxesse a alegria que a casa há muito perdera.
Ainda me encontro longe da porta, mas consigo imaginar como estão as coisas para além dela. Exactamente como as deixei, quando parti.
Chega até mim o ranger da porta e tu apareces à entrada. Trajas uns calções e uma t-shirt (roupa típica de andar por casa). O cabelo escuro e farto ondula com o vento e os teus olhos irradiam uma extrema alegria. O teu sorriso está tal e qual aquilo que eu lembrava, uma fonte inesgotável de luz e brilho.
Apesar de querer chegar até ti, afrouxo o passo, tentando, inutilmente, controlar o nervoso miudinho que sinto no fundo da barriga e querendo ignorar as borboletas que sinto a voar dentro do estômago.
Mas não aguento. Quando dou por mim, estou a correr na tua direcção, a querer refugiar-me nos teus braços fortes. Mas é precisamente nesse momento, em que os meus braços se iam fechar à volta do teu pescoço num terno abraço, que tudo se desvanece.
Oh, fora apenas uma partida da minha imaginação e eu caí nela. Mas não devia. Porque tu já não estás cá. Foste e nunca mais voltarás. Deixaste-me e agora eu sou apenas mais um ser errante que anda pelo mundo sem destino porque perdi o meu porto de abrigo. Porque tu eras o meu porto de abrigo, a âncora que estabilizava o barco que é a minha vida. E agora que não te tenho, limito-me a andar à deriva, sem um sítio certo para onde ir. De ti, tudo o que me resta são as recordações e as memórias, os tempos bons e menos bons e esta grande casa, onde passamos os nossos momentos mais especiais.
Apesar de teres partido, sabes que ficarás sempre no meu coração e que eu nunca te esquecerei. Por onde quer que eu ande, com quem ande, tu estarás sempre lá.
Sempre que eu sentir a brisa quente acariciar-me a face, será a tua mão a tocar-me, dizendo que estás bem. Sempre que os ramos do velho carvalho se agitarem com o forte vento invernal, serão os teus murmúrios a dizer que estás feliz e que tomarás conta de mim até chegar o momento de nos voltarmos a encontrar.
Até lá, permaneço por aqui, neste mundo que, sem ti, já não é um mundo completo, porque eu perdi a minha razão de viver...
by loirinha,
sem klker alteracao
1 comentário:
bem, não alterste mesmo nada! confesso-me surpreendida porque pensei que irias alterar alguma coisa, por mais pequena que ela fosse.
obrigada por o teres publicado, apesar de eu nao ter concordado muito, de início.
bj
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